Estou na Interzone há cerca de um mês e ainda não
fui capaz de encontrar William Lee. Nas ruas, correm boatos contraditórios acerca
do seu paradeiro actual. Há quem diga que ele rumou para Annexia, outros há que
me garantem que ele não passa de uma ilusão criada pelos factualistas para
provocar confusão entre as hostes liquefaccionistas, embora não tenham provas
que corroborem esta alegação. Expliquei-lhes que não queria saber de política
para nada, mas isso não os impediu de me zurzirem os ouvidos com a sua
verborreia panfletária. Uma jovem árabe tentou aliciar-me sexualmente, mas
suspeitei tratar-se de uma cilada armada por Yves, o dandy suíço, pelo que declinei a tentadora proposta. A rede de
tráfico da Carne Negra era extensa e bem organizada, e eu não podia conceder-me
o luxo de cometer um erro. Decidi fazer as malas e partir para Annexia. Deixo a
Interzone para trás, como quem se afasta do cadáver de um cão cheio de moscas.
Uns dias depois de ter chegado a Annexia, encontro William Lee a tentar vender
a sua Clark Nova nos jardins da Universidade, um ponto de paragem obrigatório
para escritores. Ele convence-me, de forma bastante hábil, devo
acrescentar, das virtudes terapêuticas da Carne Negra. No relatório que
posteriormente irei enviar para o Instituto Maclaren, ao cuidado do Dr. Benway,
vou dar-lhe conta do súbito e inesperado falecimento de William Lee. Termino-o
com uma citação: ‘Todos os agentes desertam e todos os resistentes se vendem.’
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