Se tivesse de apontar
alguém como o meu Personal Jesus,
esse alguém seria o Gary Numan. O músico britânico, que tem tantos anos de
carreira como eu de vida, foi e continua a ser conhecido como um one hit wonder, mercê do estrondoso
sucesso global da canção Cars (um
fenómeno da cultura popular que mereceu até uma referência num episódio do Family Guy e uma cover por parte dos Fear Factory com o próprio Gary Numan).
Pai espiritual dos Nine
Inch Nails, Marilyn Manson e Fear Factory, entre muitos outros, Gary Numan
atravessou um longo deserto nos anos 80. Chegado aos anos 90, deixou-se
influenciar pela sua própria descendência e reinventou-se, permitindo-se
contaminar pelas niilistas paisagens industriais e pós-industriais que ele
próprio ajudou a desenhar.
Descobri-o
verdadeiramente através do filme Dark
City, de Alex Proyas, realizador de outros filmes tais como The Crow e I, Robot. A banda-sonora incluía o tema Dark do seu álbum Exile,
e quando o ouvi não queria acreditar que aquele era o mesmo Gary Numan do tema Cars.
Comecei a segui-lo no
velhinho MySpace e a comprar a sua discografia com a avidez de
um fanático, transformando-me então num numanoid.
Uma crítica a Jagged resumia o
conceito do álbum a duas palavras: Android
Armaggedon. Daí até ao meu conceito de Android:Apocalypse
foi um pequeno passo.
Se, antes dele, os Alice
In Chains e os Nine Inch Nails tinham salvo a minha vida, foi Gary Numan que me
apontou o caminho a seguir. Não é coincidência o próprio Numan ter ido
buscar muita da sua inspiração a J.G. Ballard, Philip K. Dick e William S.
Burroughs, autores que ajudaram a formar-me enquanto escritor, e que tenha
chegado a samplar o filme Blade Runner,
o meu filme favorito desde sempre.
Em 2017, Numan continua
mais relevante do que nunca; Me I
Disconnect From You, de 1979, parece profetizar o aparecimento do Facebook,
e o enredo do filme de animação Wall-E parece ter sido decalcado de uma
das faixas do álbum de 1980, Telekon.
Resta esperar que o mundo pós-apocalíptico descrito em Savage, o seu álbum mais recente, não se venha a revelar mais uma
das suas profecias.
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