O lançamento de O desejo e outros demónios, bem como a reedição em papel do primeiro volume (O longo caminho de regresso), marca a conclusão da minha Trilogia Cidade da Indústria. Os dois livros, juntamente com O motor do caos e da destruição, formam um conjunto de três tomos com doze histórias cada um, num total de trinta e seis.
Escritas
entre 2010 e 2015, em comum têm o facto de terem como cenário de fundo a
cidade de Saint Paul e de uma ou outra personagem aparecer em mais do
que uma história, em especial o escritor Tony Dornbusch, uma espécie de
guia não-oficial da urbe banhada pelo rio Arion. Embora não fosse essa a
minha intenção inicial, notei que muitas destas histórias eram
permeadas pelo mesmo tipo de personagens, com o mesmo tipo de
preocupações, as mesmas paisagens industriais e pós-industriais, sob o
espectro de um acontecimento cataclísmico designado por Apocalipse
Andróide, podendo considerar-se que, inconscientemente, eu estava a
escrever um romance em mosaicos no qual as peças se iam encaixando sem
que eu tivesse de forçá-las.
Quanto ao O desejo e outros demónios: o título do último livro da Trilogia Cidade da Indústria é uma referência a Del Amor y Otros Demónios,
de Garcia Márquez, sendo que, no meu conto, o que move os personagens é
o desejo mais do que o amor, pelo menos no sentido em que eu o
concebo.
Em Saint Paul, o amor e o desejo andam à solta como animais ferozes em busca de suas presas.
Enquanto
duas mulheres partilham o mesmo destino sem nunca se terem conhecido,
ficando ligadas para sempre na memória colectiva dos habitantes de Saint
Paul, uma aparição leva um escritor a percorrer as ruas da Cidade da Indústria em busca do passado.
Na
mesma cidade, mas num futuro mais ou menos distante, os criminosos são
obrigados a confrontar as famílias das vítimas, num exercício extremo de
justiça restaurativa.
Mas não se preocupem;
nas palavras do escritor Tony Dornbusch, «vão-se deitar, durmam
descansados. Abaixo da superfície não se passa nada, os monstros existem
somente nos pesadelos das crianças».
Mas isso
não significa que o universo de Saint Paul se esgote nestes três
livros: há ainda muito por dizer ou escrever acerca da Cidade da Indústria e dos seus habitantes, passados e futuros, talvez em moldes diferentes daquilo que foi feito até agora.
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